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    Flavia Nardon: Cultura organizacional, a chave da transformação 

    Gaúcha, nascida no interior do Rio Grande do Sul, em Soledade, Flavia Bizinella Nardon é mãe de três crianças, uma de nove anos e dois gêmeos de quatro anos. Para ela, a maternidade é uma das suas principais forças em termos de desenvolvimento comportamental e de soft skills.

    Uma pessoa que gosta muito de estar com os outros, ver amigos e buscar novas experiências para deixar a energia cada vez mais alta. Em função da dinamicidade, explica que não consegue ficar muito tempo parada em casa e sente necessidade de estar sempre em movimento. Dentro da Gerdau, usou essa energia para mudar muitas questões internas com relação à valorização da cultura organizacional e dos processos que envolvem os colaboradores, seus motivadores e processos de treinamento.

    “A Flavia Nardon de fora do trabalho e a de dentro dele são a mesma pessoa e essa tem sido uma jornada na qual eu acredito muito e tenho  provocado bastante o mercado e a Gerdau para que as pessoas também tenham essa oportunidade: a de serem elas mesmas dentro do trabalho. Espero que essa divisão possa ser cada vez mais transparente e possamos ser uma pessoa por completo onde quer que estejamos”, defende a Diretora Global de Pessoas e Responsabilidade Social da Gerdau.

    Sua trajetória na Gerdau começou na área da comunicação. Como você chegou ao cargo de CHRO?

    São 19 anos aqui na empresa e passaram voando. A Gerdau nos proporciona carreiras longas, mas são várias etapas diferentes dentro da mesma história.

    Eu sou publicitária de formação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Tenho MBA em marketing e comecei a minha vida profissional jurando que eu trabalharia com comunicação o tempo todo, trabalhei em várias agências de publicidade e entrei na Gerdau como estagiária de comunicação social em uma época de estruturação da comunicação digital. Depois de participar do programa de trainee, fui assistente técnica e fui convidada para trabalhar com comunicação interna que, na Gerdau, fica dentro da área de Pessoas.

    Quando passei a estar mais próxima dos colaboradores, entender o que engajava os times e como os colaboradores respondiam às ações de comunicação, eu fiquei encantada por aquele processo. Aí surgiu a oportunidade de ser expatriada e fiquei três anos na nossa operação nos Estados Unidos, fui para atuar com comunicação interna e nesse período comecei a me envolver com outros processos de RH, como clima e cultura organizacional, gestão da mudança. Assim fui ganhando mais repertório.

    Quando fiquei grávida, comecei a demonstrar interesse em voltar para o Brasil, porque queria muito que a minha filha nascesse aqui perto da minha família. Então fui convidada para voltar e trabalhar no processo de transformação cultural da Gerdau que estava iniciando naquele ano, em 2014. Voltei para São Paulo e logo depois assumi  a área de desenvolvimento humano e organizacional, incluindo os processos de cultura, clima, comunicação interna, carreira e sucessão e aprendizagem com foco nas operações do Brasil.

    Esse movimento foi uma grande oportunidade para mim, sair da área mais técnica de comunicação e engajamento para olhar para outros processos de gestão de pessoas. Esse é um ponto importante da nossa cultura: a gente aposta nas pessoas e dá condições para que elas aprendam o que precisam para performar bem.

    Então em 2018 assumi área de cultura e gestão de talentos globalmente, trabalhando em conjunto com  os nove países onde a gente atua. Fiquei nessa posição por cinco anos e guardo muito carinho dessa época, criamos muitas coisas ao longo dos anos. E aí em setembro do ano passado fui convidada para assumir a liderança global da área de Pessoas e responsabilidade social da Gerdau. Para mim é uma honra poder liderar esse time que é extremamente talentoso.

    Na sua vivência, o que foi essencial para liderar grandes transformações organizacionais com êxito?

    Em primeiro lugar, a gente precisa de coragem e persistência. Para transformar a cultura de uma empresa de 120 anos, 36 mil pessoas, é importante que se tenha muita clareza do nosso propósito e seja resiliente, porque grandes mudanças não ocorrem de um dia para o outro.

    Eu tenho muito orgulho de dizer que a Gerdau em que eu trabalho hoje é muito diferente da Gerdau em que eu entrei em 2004, mas mudanças assim levam tempo pois estamos falando sobre comportamento humano. Não é um cartaz na parede que faz as pessoas se transformarem, elas precisam acreditar naquilo, precisam entender, se desenvolver, para que possamos fazer um movimento coletivo.

    Existe outro fator que para mim é essencial, que é a capacidade de construir relações de confiança e colaboração. Eu nunca fiz nada sozinha, as ações só saíram do papel porque conseguimos nos unir enquanto time de Pessoas ou time de lideranças. 

    Com mais de 120 anos, a Gerdau é sinônimo de tradição ao mesmo tempo em que é referência em inovação. Como vocês impulsionam essa cultura?

    A gente trabalha na transformação cultural há quase 10 anos e tudo isso começou por uma necessidade de negócio. Era fundamental que a gente tivesse uma cultura de inovação, agilidade, simplicidade e líderes humanizados. Temos muito orgulho de ver a Gerdau hoje entre as empresas mais inovadoras do Brasil, mesmo sendo uma empresa de mais de 120 anos. A nossa história nos fortalece.

    Em primeiro lugar,  existe uma convicção da nossa liderança de que gerenciar a cultura organizacional é fundamental para o negócio. E, quando a gente tem um time de liderança muito alinhado, é mais fácil que isso seja percebido por toda a organização. O nosso trabalho com cultura organizacional é muito robusto. Estamos olhando constantemente se todas as nossas ferramentas de gestão de pessoas impulsionam uma cultura de inovação, colaboração e valorizam comportamentos de abertura e respeito pelos indivíduos.

    Investimos muito em capacitação de pessoas e também comunicamos o tempo todo os nossos princípios, o que valorizamos. Temos consciência de que um líder comunica para além das suas palavras. As lideranças comunicam pelas escolhas que fazem, onde dedicam tempo, como definem as suas prioridades. 

    A maneira como nos relacionamos com os nossos acionistas, com nossos fornecedores, com as nossas comunidades também refletem a nossa cultura e a maneira como acreditamos que devemos impactar a sociedade.

    Quais programas e iniciativas a Gerdau tem promovido para se conectar com o futuro do trabalho?

    Não gosto muito da expressão “futuro do trabalho” porque acho que esse “futuro” parece muito distante. Acho que já estamos falando em presente do trabalho, porque já estamos vivendo um ambiente extremamente diferente daquele de anos atrás.

    Temos diversas ações e iniciativas em andamento, como horários e benefícios flexíveis, diversas iniciativas para promoção de saúde mental, entre outros. Mas como grande guarda-chuva, eu diria que a gente tem trabalhado muito o conceito de liderança humanizada. É interessante que, quanto mais estudamos as tendências de futuro, mais temos a certeza que o que vai fazer a grande diferença no mercado de trabalho são as conexões profundas entre as pessoas. Precisamos investir muito nas lideranças para fazer com que isso ocorra.

    Como foi a experiência de escrever um capítulo no livro “Liderança: Mulheres que comunicam a transformação”? O que você contou por lá?

    Eu contei sobre o projeto mais importante da minha vida, que são os meus filhos. E falei também sobre como a maternidade me tornou uma líder melhor, porque o que eu aprendo na minha casa todos os dias me faz refletir sobre o papel da liderança e como podemos fazer isso da melhor forma possível dentro das empresas.

    Eu até brinco aqui na Gerdau que, quando alguém quiser fazer um treinamento de gestão, podem passar uns dias na minha casa. Mas fora as brincadeiras, tenho a certeza de que a maternidade alavanca skills muito importantes para a nossa atuação como líderes.

    Qual é o seu legado rock?

    É entender que as pessoas são únicas, em qualquer lugar que elas estejam. As pessoas devem e merecem ser felizes e serem elas mesmas, seja no trabalho ou em casa. Que a gente, enquanto corporação, consiga acolher as pessoas da forma que elas são e respeitá-las desta forma. Acredito que posso resumir isso tudo na busca por lideranças mais humanizadas. 

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