Kelly Gusmão, Cofundadora e CPO da Warren, encontrou no mundo dos investimentos e da gestão de pessoas molas propulsoras para impulsionar a sua trajetória e a de outras mulheres.
A vida no interior do Rio Grande do Sul, mais precisamente Uruguaiana, se tornou pequena para os planos de Kelly. Filha de pais separados, de uma família de classe média que faliu, ela se tornou obstinada por independência financeira. Começou sua trajetória se formando em Administração e, depois disso, decidiu ir atrás do dinheiro: se mudou para os Estados Unidos, onde morou em Boston, Miami e Nova York.
Em 10 anos de muito trabalho no mercado financeiro norte-americano, Kelly absorveu aprendizados que, no futuro, levaria para dentro da sua própria empresa. Mas, no meio do caminho, sentiu os preconceitos de gênero de uma área majoritariamente masculina. Experiências que também impulsionaram a criação do time de Pessoas e Cultura da Warren.
Aos 41 anos, Kelly opta pelo equilíbrio entre vida pessoal e profissional, divisão que não existia em seus primeiros anos de carreira. Além de mãe, ela também é budista, crossfiteira e adepta de café e coca zero.
O que te inspirou a trabalhar com áreas que, à primeira vista, podem parecer distantes?
Eu sempre fui de exatas e sempre trabalhei com investimentos. Tanto é que, inicialmente, meu papel na Warren era cuidar de todo o back da operação. Montei a administração fiduciária, ajudei a constituir os 5 primeiros fundos de investimentos da Warren, ajudei com os registros com os órgãos reguladores, Anbima, CVM e Bacen. Construí o primeiro time de finanças, tesouraria e toda a parte administrativa e de facilities. Foi só depois de um tempo que percebi que havia uma demanda específica de cuidar das pessoas… e quando vi essa oportunidade, pensei: “Está aí uma boa oportunidade de fazer diferente: proporcionar um ambiente bacana, seguro e saudável para as pessoas. Já sei o que fazer e o que não fazer, baseada na minha experiência enquanto mulher no mercado financeiro”. Então, no final de 2017, abri meu notebook e pesquisei “como montar uma área de Recursos Humanos” , e foi assim que o time de Pessoas e Cultura da Warren começou a nascer.
Como a experiência trabalhando no mercado financeiro norte-americano impactou na formação da Warren?
O que vivi lá fora me impulsionou a querer construir uma empresa melhor para todas as pessoas, mas em especial para as mulheres.
Passei por situações de assédio e competição entre colegas. Eram outros tempos, nesse ponto eu acredito que já evoluímos muito. Hoje, não percebo mais tamanha competição, acredito que hoje as mulheres se apoiam mais, praticam mais a sororidade, se veem mais como aliadas e membros do mesmo time. Foi com essa bagagem que fundei a Warren, tudo isso que vivi, me impulsiona todos os dias para cumprir com o meu papel aqui dentro da empresa e como cidadã na sociedade: possibilitar um ambiente acolhedor, seguro e que desenvolva todas as pessoas — em especial, as mulheres.
O mercado financeiro ainda é predominantemente masculino. Como você trabalha para diminuir essa desigualdade de gênero?
Hoje, as mulheres ocupam 35% das posições do time de mais de 600 pessoas na Warren. 25% delas em cargos de liderança e 45% estão em cargos de especialistas. Está longe de ser o cenário ideal, mas vou continuar trabalhando para evoluir esses números. Em 2020, lançamos o Warren Equals, um conjunto de iniciativas com foco em equidade de gênero dentro da empresa, para aproximar as mulheres do mercado financeiro, que depois, transformou-se num fundo de investimentos, reunindo empresas do Brasil e do mundo que possuem políticas de equidade, mulheres em cargos de liderança, marca pro-mulher, diretrizes de equiparação salarial entre homens e mulheres e muito mais.
E em março de 2022, dois anos após o lançamento do fundo, tivemos uma novidade: a Warren Shop — nossa loja de produtos Warren, até então acessível somente para pessoas colaboradoras — agora lançada para todo o Brasil com a coleção Equals. A Warren Shop não tem fins lucrativos. Todo o valor das vendas é revertido em ações sociais. O dinheiro vai para instituições ligadas a causas de mulheres em situação de vulnerabilidade.
Na sua perspectiva, qual é o papel dos líderes na promoção de ambientes de trabalho mais diversos, inclusivos e saudáveis?
O papel das lideranças é fundamental para promover esses valores de desenvolvimento e inclusão. Eles servem como exemplo e inspiração. Uma boa liderança deve conhecer bem cada pessoa do seu time, entender o que motiva e o que desmotiva cada um. Saber quais os sonhos pessoais e planos de carreira de cada integrante do time. Mas, para isso, é preciso se importar de verdade, ter empatia, construir relações de confiança. Os líderes são a ponte entre o ambiente de trabalho saudável e a eficiência em direção a execução estratégica da empresa. Mas não se iludam, isso não é tão glamouroso quanto parece, ninguém nasce líder, mas torna-se um. Liderar é uma vocação dificílima, dolorosa e muitas vezes solitária. Mas aqueles que têm o dom de cuidar das pessoas e dominam a técnica, são os melhores mentores e guardiões da cultura, do bem-estar e da performance.
O que você espera do futuro do trabalho?
Espero que as pessoas consigam equilibrar cada vez mais a mente e o corpo. Vida pessoal e vida profissional. Espero que essa ressaca pós pandêmica, que ainda nos abala, termine logo. Acredito que o formato híbrido veio para ficar, que o modelo remoto funciona bem, mas que a convivência presencial e o olho no olho são indispensáveis para a nossa evolução enquanto pessoas e profissionais. Espero que as mulheres se empoderem mais e empoderem umas às outras. Espero que eu possa fazer mais pelas pessoas, fazer a diferença, fazer melhor, ser melhor. Sou uma eterna otimista. Vai dar certo!