Marcelo Nobrega, Consultor em Inovação e Tecnologia para RH e Investidor e Conselheiro de HR Techs, consolidou-se no mundo corporativo liderando projetos em empresas multinacionais.
Em 2018, Nobrega foi eleito dirigente do Top of Mind de RH e Top Voice do LinkedIn. Nos seus 30 anos de carreira, empresas em que trabalhou receberam prêmios como Great Place to Work, Top Employer e Selo de Diversidade Étnico-Racial. No âmbito pessoal, Marcelo define sua paixão pelo trabalho tão intensa, que as fronteiras entre vida pessoal e profissional muitas vezes se misturam.
Quando você soube que iria seguir sua carreira de RH com foco em inovação e tecnologia?
Sempre combinei RH e tecnologia, pois minha formação original foi em Ciência da Computação. Fiz graduação e mestrado na Universidade de Columbia no final dos anos 80. Ao retornar ao Brasil, trabalhei com TI no mercado financeiro. A curiosidade e a oportunidade de automatizar diversos processos operacionais me deram uma visão sistêmica das organizações. Então, quando migrei para o RH, foi natural aplicar metodologias de gestão e ferramentas de TI para construir equipes eficientes, capazes de criar valor tanto para as pessoas quanto para o negócio. A automação das tarefas operacionais permitiu que as equipes de RH atuassem de forma mais estratégica. Exemplos concretos incluem a redução de turnover, absenteísmo, sinistralidade dos planos de saúde, além da formação de líderes para a expansão de negócios e o aumento da diversidade de gênero em posições de liderança, resultando em melhorias no clima organizacional.
Desde o surgimento do debate sobre IA x Humanos, o que mais te surpreendeu e por quê?
Foi justamente essa polarização. É evidente que existem áreas onde os humanos são e continuarão a ser superiores à IA e vice-versa. Portanto, não se trata de “ao humano o que é humano e à IA o que é da IA”. A verdadeira questão é como podemos utilizar a IA para aumentar nosso conforto e melhorar nossa qualidade de vida. Afinal, elevadores, automóveis, ventiladores e escadas rolantes são frutos de avanços tecnológicos que, de certa forma, podem ser vistos como “robôs”. Em breve, será comum conversar com nossas geladeiras para obter recomendações de receitas ou solicitar entregas ao supermercado. IAs que atuam como coaches ou terapeutas já são uma realidade, por exemplo. O que realmente nos assusta é que, pela primeira vez, a tecnologia está desempenhando funções tradicionalmente associadas a profissionais do conhecimento. A IA pode parecer que raciocina, mas isso é uma ilusão. Ela é como um martelo. Para um carpinteiro que só sabe usar um martelo, tudo parece prego. Precisamos lembrar que a IA substitui o ser humano na execução de tarefas, mas não elimina empregos.
Como surgiu a ideia do curso “ChatGPT para Profissionais de RH” e qual foi a recepção do público?
A recepção ao curso me surpreendeu positivamente. Foi emocionante ver o engajamento e o deslumbramento dos alunos com suas descobertas e conquistas. Além do ChatGPT, o curso abordou outras ferramentas como Google AI Studio, Copilot da Microsoft, Gamma, Tome, Tactiq e Parsio. A ideia foi justamente desmistificar a IA para os profissionais de RH, mostrando como essas ferramentas podem tornar o trabalho mais eficiente e criativo na resolução de problemas.
Atuando como mentor de executivos, qual foi o seu maior aprendizado?
Foi perceber como a vida no ambiente corporativo ainda é desafiadora para muitas pessoas. Em minhas conversas com diversos profissionais, encontro muitos que não confiam em seus gestores diretos e sofrem com discriminação, microgerenciamento ou cobranças irrealistas. Isso evidencia o despreparo de muitos líderes nas empresas. O lado positivo dessa história é que a maioria dos que me procuram deseja aperfeiçoar sua liderança e ser justamente o oposto desse modelo de gestão. Liderança não se aprende da noite para o dia, é um exercício constante e permanente. Por isso, ser mentor de executivos tem sido uma experiência incrível e aprendo muito com cada interação. As histórias, carreiras e perspectivas são sempre ricas e variadas. Nos últimos anos, conversei com mais de 500 pessoas de todos os níveis interessadas em crescimento pessoal e profissional. E três temas principais dominam as conversas: planejamento de carreira, primeira posição de liderança e os desafios da liderança em um mundo em constante transformação. Embora eu compartilhe meus aprendizados e pontos de vista baseados em experiências passadas, percebi que o verdadeiro diferencial na mentoria está em fazer perguntas e escutar. A escuta ativa, genuína e focada no interesse do outro, permite ao mentor fazer provocações que levam o mentorado a chegar às suas próprias conclusões.
Que conselho você daria para os leitores da Rocking Talent que buscam inovar no campo da gestão de pessoas?
A recomendação que sempre faço é: comece pequeno com um problema de negócio. Começar pequeno aumenta as chances de sucesso e permite que você obtenha resultados rapidamente. Essas pequenas conquistas irão retroalimentar o processo e farão uma grande diferença a médio prazo. Por onde começar? Entenda o job-to-be-done dos seus principais stakeholders. Como inovar? Mantenha-se atento ao que acontece ao seu redor. Amplie sua visão periférica: saia do escritório e vá até onde o negócio realmente acontece. Faça benchmarking com empresas de outros setores, conviva com profissionais e hubs de inovação, dialogue com HR Techs para entender suas soluções e como desenvolvem uma atitude proativa. Um conselho extra sobre startups: ao contratar uma HR Tech, lembre-se de que esses empreendedores estão no início e possuem recursos limitados. Não imponha os mesmos critérios e processos de negociação que a área de compras aplica a grandes fornecedores.
Qual é o seu legado ROCK?
Eu quero ver o RH como protagonista de grandes transformações nas empresas, criando valor tanto para o mundo quanto para as pessoas. Embora eu esteja envolvido em diversas atividades, todas elas convergem para o desenvolvimento dos profissionais de recursos humanos. Meu webcast “Você Está Contratado!”, meus livros, aulas, palestras, mentorias, investimentos em HR Techs e consultorias têm um objetivo comum: posicionar o RH como um agente de transformação que apoia a construção de empresas vencedoras, destacando-se pela excelência no gerenciamento de talentos como um diferencial competitivo. Acredito que os melhores profissionais desejam trabalhar em empresas que se destacam tanto em resultados de negócios quanto na gestão de pessoas. É aí que o RH tem uma oportunidade única de brilhar e fazer a diferença.
