Matheus Fonseca, Cofundador da Leapy, se inspirou nos ensinamentos que teve como jovem aprendiz para empreender em prol de mais oportunidades para a juventude.
Matheus cresceu no interior de São Paulo, onde desde cedo ajudava com o comércio do pai. Formado na educação pública, foi jovem aprendiz durante a adolescência e pode, com isso, juntar dinheiro para o cursinho pré-vestibular que garantiu sua vaga na faculdade de Administração.
Iniciou sua carreira trabalhando com vendas em uma startup de tecnologia, mas foi em um programa de estágio da Movile que adentrou no mundo do RH. Foram 6 anos aprendendo muito sobre todas as áreas da gestão de pessoas, evolução que o levou a um cargo de liderança.
Hoje, Matheus realiza o sonho de possibilitar mais acesso e oportunidades de emprego e desenvolvimento para jovens talentos através de sua própria empresa, a Leapy.
O que te inspirou a cofundar uma HR Tech focada na em jovens aprendizes e empregabilidade?
Eu já estive dos dois lados da moeda, já fui jovem acessando o mercado por meio de programas (jovem aprendiz e estágio) e já fui RH tentando resolver a dor de talentos por esses mesmos programas de formação.
Ter tido acesso a essas oportunidades mudou minha vida e abriu diversas possibilidades, foi com o dinheiro que recebi como jovem aprendiz que consegui pagar um cursinho pré-vestibular e passar na faculdade. Foi a partir do programa de estágio que consegui iniciar uma carreira em RH e chegar ao cargo de gerente.
Mesmo partindo de um lugar muito privilegiado, se comparado a outras realidades, esses programas tiveram um impacto grande na minha jornada e sei que podem gerar o mesmo na vida de milhões de jovens.
Como a Leapy propõe soluções para o dilema de escassez de talentos X altos índices de jovens desempregados?
A Leapy nasceu como uma plataforma de contratação e aceleração de jovens aprendizes que ajudará as empresas a transformarem a obrigação legal de ter jovem aprendiz em um investimento estratégico. Fazemos isso conectando nossos jovens com as vagas nas empresas e entregando, após a contratação, uma plataforma de desenvolvimento que forma os jovens nas competências que são necessárias para que entrem, tenham um bom desempenho, sejam efetivados e cresçam. Acreditamos que é possível, em médio e longo prazo, criar uma máquina de formação de talentos diversos usando essa política pública para que aos poucos as empresas sofram menos pela falta de talentos e para que os jovens sejam realmente incluídos no mercado de trabalho.
Quais são as soft skills que diferenciam os jovens que se destacam no mercado atual?
Refletindo sobre os programas que eu já conduzi e sobre os milhares de jovens já contratados e desenvolvidos, acredito que existam 3 soft skills críticas, que são: autoconhecimento, resolução de problemas e comunicação. Mas daria para citar muitas outras competências importantes aqui, até porque nesse início de carreira o mais crítico é ter um alicerce forte para então ir adicionando outros conhecimentos. E mais do que isso, no contexto de mercado atual, onde carreiras estão sendo questionadas e conhecimento técnicos estão cada vez mais acessíveis (vide ChatGPT), ter as soft skills bem desenvolvidas se tornará algo básico.
A dúvida que fica é se conseguiremos criar mecanismos dentro das instituições, de ensino ou empresas, para formar e apoiar as pessoas nesse processo de desenvolvimento.
A combinação de pessoas e tecnologias faz parte da sua trajetória profissional. Como você vê essa relação?
Esses dois pilares precisam caminhar juntos, não existe como retroceder. Precisamos entender o que só o ser humano pode fazer, por enquanto, e como esse pode se conectar e usar a tecnologia para ser mais eficiente e entregar algo ainda melhor. Não acredito que exista a tal competição entre o ser humano e a máquina ou que devemos tomar cuidado para não sermos substituídos. Isso definitivamente acontecerá em algum momento, senão a função completa, pelo menos uma parte será executada por tecnologia. E que ótimo, isso libera mais tempo para pensarmos em temas mais complexos e que demandam uma abordagem mais subjetiva e humana. O grande ponto é que no contexto atual o acesso e capacitação em tecnologia não é democratizado, precisamos quebrar barreiras e incluir mais pessoas nesses temas.
Quais transformações deverão ocorrer para que as empresas e os profissionais da Geração Z mantenham uma relação mais saudável?
Estamos lidando com pessoas que nasceram com a internet funcionando, com as informações fluindo para lá e para cá e com muitos acontecimentos históricos marcantes. Esse contexto faz com que esses jovens sejam extremamente pragmáticos e bem decididos sobre o que querem fazer e o que valorizam, o que pode gerar estranheza em um primeiro momento. Em alguns cenários, são classificados como mimados, mas o que temos são jovens conscientes e com a informação na palma da mão.
Então, é necessário que as empresas tenham ainda mais clareza sobre a sua proposta de valor como empregador (EVP) para construir um posicionamento que se conecte com essas pessoas, mostrando a realidade da empresa e o que ela pode entregar. Isso fará com que a geração Z tenha suas expectativas calibradas e tende a facilitar a relação.
Compartilhe com a gente algum aprendizado que extraiu da sua experiência promovendo a empregabilidade de jovens.
Durante esses anos tive contato com jovens talentos incríveis vindo de todos os lugares e origens, pessoas com 17/18 anos que tiveram que vencer muitas barreiras até chegar em um processo seletivo. Precisamos entender que estamos lidando com pessoas de realidades muito diferentes da nossa e entre elas, não podemos assumir uma verdade única e achar que aquele é o padrão.
Nossa atuação enquanto empresa, RH e liderança precisa ser direcionada para uma real compreensão sobre quem são as pessoas que estamos selecionando e desenvolvendo. Precisamos criar os mecanismos para que essas pessoas continuem avançando e quebrando as suas barreiras.Existe muito potencial e talento nos jovens e precisamos ajudar a destravar.