Tonia Casarin, especialista em liderança, escritora e palestrante, fala sobre o papel das lideranças do futuro e sobre a importância da transformação digital e humana caminharem juntas.
A brasileira Tonia Casarin, que hoje vive no Vale do Silício, nasceu em Petrópolis (RJ) mas já morou até na Nasa – experiência de 3 meses que, para ela, confirmou que “o céu é o limite”. Muito determinada e focada desde a infância, se apaixonou por esportes logo cedo.
Já formada em Administração, Tonia trabalhou por muitos anos no mundo corporativo, mas sentia um vazio que foi preenchido pelo novo desafio: a mudança para os EUA para cursar Mestrado na Universidade de Columbia, fruto de uma bolsa de estudos.
A partir dali, Tonia se encontrou como especialista em liderança e passou a atuar no desenvolvimento de competências socioemocionais de líderes. Escreveu seu primeiro livro, “Tenho Monstros na Barriga”, sucesso de crítica e premiado como Global Impact Challenge 2017, da Singularity University.
Para ela, a transformação digital e a transformação humana devem andar juntas. Lema que ela também defende em seu último livro, “Liderança Exponencial”, um dos mais vendidos no Brasil.
Como você se tornou especialista em lideranças?
Eu trabalhei por alguns anos como gestora de canais remotos de venda e retenção em uma grande empresa de telecomunicação, era um emprego que me remunerava bastante, mas sentia que não me preenchia, logo em seguida comecei um cargo no setor público que após o primeiro ciclo eleitoral senti que não era para mim.
Sabia que queria impactar as vidas das pessoas, resolvi que, para alcançar o meu objetivo, seria preciso me preparar, estudar muito, estar no centro das mudanças para conhecer esse mundo em transformação. Larguei tudo mais uma vez e fui para os Estados Unidos para fazer um mestrado e aprofundar meu entendimento sobre liderança e comportamento humano.
Quais foram as maiores mudanças em relação ao papel dos líderes com as crises e transformações dos últimos anos?
Uma das maiores mudanças que vejo é a humanização na liderança, com um foco maior nas pessoas, onde o líder não determina o rumo da equipe, mas atua como um incentivador do time, pensando no desenvolvimento de todos. Outra mudança veio na pandemia, quando as empresas perceberam a necessidade de dar atenção sobre como as pessoas estão construindo a sua relação com o trabalho. Por exemplo, se eu não estiver em um ambiente com uma cultura positiva, onde o espaço é tóxico, eu vou buscar outro trabalho onde possa encontrar uma cultura melhor.
Em relação à saúde mental, quais são os desafios enfrentados pelas lideranças?
Acompanho líderes dos mais distintos mercados travando verdadeiras batalhas internas por se verem presos a um dilema que, em minha visão, já poderíamos ter superado: a busca incessante por resultados a qualquer custo. A pressão constante por metas e números inconcebíveis são propulsores de problemas na saúde mental desses profissionais. Diversos líderes se sentem sozinhos diante de toda essa responsabilidade, o que acaba sendo um grande prejuízo para as equipes também.
Qual soft skill você considera essencial nos líderes do futuro?
Criatividade. No ambiente corporativo, a liderança criativa também impacta os colaboradores, porque oferece a eles a oportunidade de criarem suas próprias soluções para os desafios, em vez de serem simplesmente instruídos sobre o que fazer.
E qual é a importância do autoconhecimento para quem lidera?
O líder tem uma grande influência na equipe, sendo assim, a partir do momento em que ele olha para dentro de si e consegue enxergar os pontos que precisam ser melhorados e que influenciam de maneira negativa a equipe, isso muda a cultura corporativa e sua forma de gestão. Já trabalhei para alguns clientes que passaram por questões e desafios com o time, mas a partir do momento que eles conseguiram perceber que alguns dos seus comportamentos influenciavam as pessoas de forma negativa, passaram a mudar.
Fale sobre seu livro “Tenho Monstros na Barriga”.
Ele nasceu de um projeto frustrado. Estava tentando desenvolver um jogo para uma matéria durante o mestrado em Liderança, na Universidade Columbia, nos Estados Unidos, e não consegui chegar a um resultado que promovesse aprendizado e, ao mesmo tempo, fosse divertido, porém, eu não queria deixar a essência do projeto de lado. Uma das capacidades principais que diferencia grandes líderes é a inteligência emocional, e eu buscava entender o porquê esperávamos ser adultos para desenvolver essa competência.
Logo, queria construir uma ferramenta para que crianças aprendessem a lidar com as suas emoções desde cedo, percebi que como adultos somos péssimos exemplos. E por que esperar a vida toda para aprender se podemos começar desde pequenos? O jogo não deu certo, mas eu percebi que mais importante do que o formato era a mensagem. E, em um mês, o livro que logo se transformou numa trilogia nasceu.